Tudo
O sentido da vida
é o que falta.
Não falta de sentido
porque há vários
todos à distância
de uma mirada
ou mero bocejo
ou obstinado tropeço.
O sentido da vida
é o que falta
à vida mesma:
o beijo negado
o olhar não dado
o filho que não veio
a palavra não inventada.
O que falta complementa
o que nos move:
a ausência de afeto na areia árida
que não responde
ao toque
cria a resposta do apego a algo ou alguém
que inventamos.
Areia que escorre
pelas mãos
que nos damos
mesmo no vazio da mão que se desprende no nada onde nunca estamos .
O que falta à vida é o nada que nunca tocamos.
Em especial o aceno negado
nunca esquecemos.
Mesmo o esboço do nada
na presença de todos os
presentes que ganhamos.
Mesmo
o abandono cravado
na carne
no passado
que ultrapassamos
fincando e lambendo
a cicatriz
do retorno que sempre esperamos .
A que sempre retornamos
é ao que falta:
o que nunca tivemos
o que nunca sequer sabemos
se queremos.
Até mesmo o tédio desesperado
de tudo que esperamos
e deixamos
e vivemos e esquecemos
abraça o que falta.
O que falta
jamais nos abandona
Jamais nos desencontra.
O que falta nos aleita.
Só na morte nada nos faltará.