Nunca soube amar.
Como um psicopata
em busca de cura
pra sua ausência
de sentimento
aprendia os gestos
do afeto
imitava a ação da doação
com tamanha precisão
que se passava por santo
ou poeta
em busca do toque
de algo
que atravessasse um vazio
que jamais enxergara.
Não só não sabia amar
como desaprendia
os gestos
mecânicos do amor
para depois reaprender
o ritual
que jamais saciava
sua fome.
Psicopata profissional
sorria da incapacidade amadora
de aprender o fundamento do amor.
E era este seu princípio
de amor : amador.
E se ria do princípio permanente
de aprender o que nunca
se esgotava
porque nunca o preenchia:
transbordava no que
desesperadamente queria sentir.
Psicopata profissional
interpretava os gestos do amor
como um ator
que amava seu teatro .
E assim amava – verdadeiramente
na sua realidade encenada.