Habitas em todos os lugares do que podia ter sido . Em cada escolha , um bilhão de possibilidades assassinadas . Cada gesto , um bilhão de ações enterradas . Cada sono , um rastro de sonhos vivos derramados no chão da inconsciência .
Não há paz no que se sabe vivo . Um animal vive o eterno de um momento que morre . Um humano vive um momento que jamais se esgota : no afeto a um morto que teima em ressuscitar na memória do gesto acontecido , na reconstrução do gesto jamais concebido . Um momento da morte mesma de todos os afetos jamais conhecidos.
Teu olhar nunca é do tamanho do que vês e sabes que deixas de enxergar .
Habitas em todos os tempos que quase se passaram ao largo de ti , dentro de ti . Na rua , As pessoas por quem atravessas te dão acenos por onde te dispersas , pelas vidas que perdeste em cada palavra não dada, em cada olhar desperdiçado por onde poderias ter te abismado.
Todo momento não vivido , todo algo ou alguém não acontecido é morte . Deus não escolhe teu acaso . Tu és o Deus precário de tuas decisões que abandonam o infinito de tantas outras .Te agarras ao que aparece , mas o que aparece é fruto da tua escolha assassina de um infinito de possibilidades .
Assassino de oportunidades , aprende a amar o acaso que te escolhe , aprende a amar tua escolha débil e ignorante do infinito que sabes maior que tua escolha . Aprende a amar e fazer infinita tua escolha débil – por alguém , por algo – mergulhando no abismo do teu erro mais acertado. Trabalhe por sobre a debilidade da tua escolha cega para dar luz ao que abandonaste no vasto caminho que não percorreste:
Molde o trabalho débil e mal escolhido que abracaste , molde a pessoa errada que escolheste a fim de que se tornem escolhas melhores pelas frágeis mãos com que os envolvestes . Faça da tua escolha débil um caminho Para iluminar a cegueira de tantos outros.
Só assim terás a paz dos que moldam sua ignorância na virtude de fazer o bem ao que aparece. Não há outra escolha .