Alguma fresta sempre deixa
alguma luz clarear
os contornos das formas na escuridão .
No sono , algum sonho esboça
um traço de realidade possível.
No silêncio imposto , alguma palavra grita
na ponta da língua , prestes a explodir
como um beijo que cala a boca do carrasco.
No abandono , na rejeição , na censura ,
no fracasso
alguma memória do que poderia ter sido
se projeta para sempre na esperança
que se espreita na sombra solar
da ação
que queima toda frágil treva do presente:
formas na escuridão se revestem
de alguma fresta que dá à luz algum
esboço de vida que teima
em jamais desaparecer .
Alguma fresta sempre deixa
alguma luz clarear
os contornos das formas na escuridão .
Olhos fechados e cores turvas teimam em negar a cegueira impossível .
Na sombra de nossas formas ,
tateamos a luz que entra na fresta
por onde enxergamos a esperança nascer .