Balada do falso mau

Todos são mais felizes que eu.
Todos são mais simples , virtuosos e contentes
que eu .
Por inveja e ressentimento
trabalho para a construção
de uma realização que ultrapasse
o prazer frágil
de uma felicidade que se esgota sozinha,
Firo cada felicidade isolada
da frágil morada humana que
carece de abrigo e comida
e se alimenta da fome do vazio
que desconhece dos miseráveis felizes
que habitam um sonho estéril .
inauguro uma fome para além da boca.
Abro uma boca que devore um apetite
para além do gozo e da saciedade .
Inauguro um afeto para além da carne
do filho
torno filho por adoção
o aborto que renega sua família
torno família quem renega sua humanidade .
torno humano quem vai além de sua carne
e olha na poça da sarjeta o reflexo do ceu
que o desaba .
Sádico , saboreio cada dor como antepasto
de um prazer maior que vai inaugurar a beleza de um urubu mais pleno
que não só devora a carniça
para limpeza dos olhos humanos
mas revela a beleza da carniça
que enxerga a podridão como
caminho para a redenção.
Por desprezo à felicidade
cercada por muros
me crucifico
para além do prazer
dos felizes que
não percebem
a virtude da miséria ao lado.
Terno , beijo nos olhos do canalha infeliz
sua bondade castrada .
terno , arranco do fígado do feliz
sua miséria entranhada.
Todos são mais felizes que eu.
sem saber o que é um feliz ,
sofro contente reconstruindo
uma alegria difusa
em minha nossa humanidade
desencontrada .

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