Não sei bem o que sinto .
Finjo sentir bem a fim de melhorar
o que sinto .
Se desejo , creio que amo .
Se amo como permanente doação
anulo o desejo .
Se misturo , me perco
e me escravizo ao que creio querer .
Então finjo .
Finjo gostar para além do que quero
a fim de querer gostar do presente invisível
que a realidade me oferece
Finjo ser delicado
com tudo e todos que creio não querer
a fim de que meu querer ultrapasse
sua ignorância .
Aninho o que não sei
a meu respeito em outro corpo estranho
como abraço ao que estranho em mim.
Sou a sombra da tentativa de me enxergar
em outros olhos que desconheço .
Tudo se estranha em forma e conteúdo :
Uma estupidez se faz delicada
como um doce carrasco
que ataca tua honra
como principio de justiça.
uma sinceridade ofende – mas mostra-
teu erro como generosidade rude
que te abraça mordendo tua chaga.
A mesma sinceridade não reflete
aparente transparência do seu portador
onde transparece ressentimento do abraço que te esmaga
O amor toma a forma de quem ama
generoso na aparência da carência
do seu portador
calculista na intenção de retorno ;
opressivo e controlador em forma de
Cuidado.
Não há amor
que não sufoque a coisa amada .
Desconfio da minha intenção
como um santo que em sua oração
se põe a pecar .
onde o gesto real da doação?
Então calculo minha doação.
A fim de interpretar tão bem
o cálculo
a ponto de amar a ação fingida
de me doar .
Finjo mesmo o cálculo da confiança
em quem quiser me apunhalar.
Finjo por me saber miserável
que espelha a miséria comum
da nossa ignorância em não saber
nos encontrar.