Sem fim

O ano acaba ,o dia acaba , o mundo acaba , tudo acaba pra recomeçar outra vez. De nada adianta o desespero do suicida cuja esperança de menos dor em outra vida enterra sua morte . De nada adianta o sono do deprimido que desperta seu sonho que adormece seu desencanto . Nenhuma doença do corpo , da alma cura uma doentia vontade de viver , desde o vírus que se alimenta da morte até à certeza da morte que alimenta a fome de cada momento mortal que se tatua na memória de algo mais .

Mesmo o ódio se alimenta como paixão à rejeição de amar. Não acaba a indiferença no peito de quem não é visto por quem ama e não acaba a esperança de amor pelos olhos que não te enxergam . Nem se acaba a cegueira que se alimenta da sede eterna de tudo que não vê e toca .

Esperanças contrariadas não resistem ao terno olhar de um cão que restitui uma humanidade perdida . Um meteoro , pandemia que destrua a humanidade restitui a ternura da espera de outra espécie tão mais primitiva que engula o risco de viver sem a máscara de um falso fim . Nao se acaba a flor na eterna memória de sua beleza que espeta a mão do curioso que não sabe tocar seu encanto .Não acaba teu trabalho , teu tijolo posto no lar de quem te abriga e não vês . Uma formiga não se acaba no DNA de seu trabalho pelo bem do outro . Não acaba você na carne do teu filho ou mesmo na memória de quem te olhou e nunca te viu com os olhos de promessa que você coroou . Nem mesmo se acaba a dor do não vivido na memória lírica e desesperada do quase ou não acontecido. Um desejo jamais saciado se projeta eternamente como o que poderia ter sido e jamais se acaba . O projeto da humanidade é um desejo jamais saciado que jamais se acaba .

À sombra do universo em expansão que explodirá um dia , brotará outro , mais primitivo ,sem a consciência humana que o defina , e outra espécie em algum planeta periférico aprenderá tudo de novo , com os mesmos erros até jamais se acabar onde um dia a sombra da terra ressuscitará em algum espaço dobrável do tempo em algum buraco negro que vomitará e dará à luz toda a memória de um mundo que jamais se acaba.

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