O jovem eterno

O jovem eterno

É preciso a revolução . O país está um caos . Ou talvez seja preciso criar um caos no país onde o teu cotidiano não esteja suficientemente revolucionário. a fim de que uma revolução revolva teu tédio, é preciso revolucionar . É preciso expurgar os demônios do teu ressentimento. Preciso criar demônios pra que não veja seu lado demoníaco. É preciso acusar o golpe futuro pra que não se veja o corpo golpeado , os olhos cegados por aqueles a quem entrega suas mãos . É preciso apagar as luzes da história para se juntar às sombras e revolucionar o que não se enxerga. É preciso dar as mãos a outros cegos nas sombras onde a solidariedade revoluciona os afetos na comunhão da ignorância.

Talvez nem seja preciso, meu caro jovem eterno aprender a dar o nó nos sapatos . Nem seja Preciso aprender andar com os próprios pés. Te enforcas- com os nós que não aprendeu , com os fios brancos dos teus cabelos – no teu sonho revolucionário onde teus pés caminham o teu ideal que paira acima do teu carrasco .

É preciso acordar do sonho que te esmaga e a tantos em teu redor , jovem idealista . É preciso saber envelhecer , a fim de não morrer em eterna juventude paralisada .

O ditador , a gaiola e o passarinho

A gaiola e o passarinho

Tua boca diz liberdade
enquanto mordes a língua
do teu dócil escravo
calando com um beijo
a sua voz
com amorosa responsabilidade

Tua palavra promete igualdade
enquanto arrancas os olhos
de todos os iguais a fim de tecer
um colar de pérolas para tua vaidade

Tua fraternidade marca a ferro quente
teu pensamento na carne
de quem batizas teu irmão
como criança adulta que acaricias
no cercadinho da prisão

Teu amor se enrosca
como corda no pescoço
quase enforcando com carinho
aquele que insiste
em lhe virar o rosto
enquanto grão a grão
o alimenta em teu ninho

Há um cativo passarinho
que escapa
do teu eterno ninho
o que cisma em querer crescer
que sai da tua gaiola
sem saber voar
e se esboroa no ar
para poder livre pela primeira vez
no céu poder morrer