A gaiola e o passarinho
Tua boca diz liberdade
enquanto mordes a língua
do teu dócil escravo
calando com um beijo
a sua voz
com amorosa responsabilidade
Tua palavra promete igualdade
enquanto arrancas os olhos
de todos os iguais a fim de tecer
um colar de pérolas para tua vaidade
Tua fraternidade marca a ferro quente
teu pensamento na carne
de quem batizas teu irmão
como criança adulta que acaricias
no cercadinho da prisão
Teu amor se enrosca
como corda no pescoço
quase enforcando com carinho
aquele que insiste
em lhe virar o rosto
enquanto grão a grão
o alimenta em teu ninho
Há um cativo passarinho
que escapa
do teu eterno ninho
o que cisma em querer crescer
que sai da tua gaiola
sem saber voar
e se esboroa no ar
para poder livre pela primeira vez
no céu poder morrer