Não chorei em teu enterro

Não chorei em teu enterro.

Talvez as lágrimas evaporassem
antes de brotar por eu não ter aprendido
a te amar devidamente:
amar a lógica das diferenças
para além da superfície do que nos unia;
amar o que eu insistia em matar em você
que era precisamente o que me fazia viver;
amar o que eu matava em mim para poder sobreviver
a nosso erros que plantei em você.
Não choro por tua ausência porque tua presença inacabada
está sempre por se refazer em mim,
ainda grita em mim
como a busca de uma palavra não proferida
de um carinho esboçado e não perpetrado
como a esperança desesperada
de um gesto adiado
e em algum lugar esperado.
Não chorei em teu enterro
porque teu cadáver ressuscita em mim
como um corpo
que eu abraço
em nossas vidas sempre inacabadas.
As lágrimas que não vieram
salgam a terra em que se afundou
a última despedida que não veio.
Não chorei no teu enterro
Não me despeço de você
porque eu ainda não mereço
chorar lágrimas que lavariam
a mágoa que atravessa nosso chão.
Não chorei no teu enterro
Não me despeço de você
porque não há despedida
para uma morte
para sempre
jamais concluída. ( Adrilles jorge )

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