Viajar .
Descobrir um lugar
fora e dentro de si mesmo .
Ver no deserto
o imenso vazio ou a plenitude a ser preenchida e descoberta na sede do que não se sabe
onde se nunca sacia .
Ver na torre a tentativa de tocar o céu
intangível como ilusão da ambição
que te estimula a ir ao alto
mais alto mesmo no toque
de um irmão cujos olhos
são tua altura e queda .
Viajar .
Pra um quarto sujo de hotel
onde se encontra no desencontro
de um amor que se colhe
na bagunça dos lençóis
como se colhe uma flor
na lama do desejo .
Viajar .
Para dentro da quarto desamparado
da tua voz inaudível
Para dentro das vozes
de quem te ama
de quem te odeia
a fim de escutar
a escultura precária
que você faz
com o que fazem de você .
Viajar para uma ruína
que espelha teus pedaços
espalhados pela história
onde você colhe os teus destroços
para compor a obra de arte viva
da memória dos teus olhos
que nunca te enxergam completamente
mas sentem e atravessam
tua incompreensão .