Suicida potencial

Pensando bem , nada te motiva a viver. Nem o desejo que se encerra em sua imediata conclusão , nem a espécie que se perpetua que repete os erros da sua herança ,
nem o amor que se esgota no ideal
de sua imperfeição Nem no erro
que ensina a sabedoria da resignação.

A vida não se salva . Portanto , suicida potencial ,
escolha melhor o que te acolhe : o desamparo
é teu chão . Nele tu crias a tessitura de um sentido que te embala. Nada é fixo . Esta tua pulsão :O pulo do precipício é segurado pelo abismo onde mergulhas no olhar do teu filho ; os pulsos que tu cortas cicatrizam no perdão à facada do amigo ; o tiro que explode tua consciência é implodido por te saberes parte do universo que não se explica – onde crias teu sentido . Sentido de amar o áspero que arranha teus pulsos em busca de uma cicatriz que vai curar outra chaga de um irmão a quem acolhes
em seu último grito que se converte em choro de feto renascido em comunhão .

O precipício que te atrai busca uma mão de um outro suicida potencial que te reconhece no abismo . Montanha de semi suicidas irmanados formando uma humanidade que suicida a morte .

Pensando melhor , sentindo melhor , nada te motiva a viver . Mas o nada não existe : é um artifício criado pela vida que te empurra contra o suicidio impossível onde escolhes viver costurando teu desamparo na cicatriz de outros pulsos onde beijas teu sacrifício onde mergulhas no precipício do princípio de um outro que costura tua morte à vida que jamais te abandona.

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