Nascer não acaba

Nascer não acaba:
o parto é permanente:
nasce novamente
a mãe no esboço do filho
e em seu desenho sempre inconcluso
que foge à sua carícia.
Nasce um novo feto sempre incompleto
do abandono da mãe. Do abandono à mãe.
Nasce a cada abandono sucessivo
um novo parto doloroso
de permanente nascimento:
nasce no desejo a vontade
de renascer nos braços de quem se ama
que abraça o feto de sua intenção
como quem embala
o sono da morte
a fim de que ela não acorde.
Desperta a morte que vai parir
a ressurreição permanente
de seus filhos
no desejo rejeitado
no abandono consumado
no afeto derrotado
no ideal destroçado
que sempre renascem
embalados
pela morte ausente
que os aleita:
morre a morte
permanentemente
no olho da criança
que reconhece a mãe que o alimenta.
Morre a morte
no abandono que se inventa.
Nasce na memória do que não foi
a esperança que se tenta
no filho da ação incompleta
que nos alimenta.
Nascer não acaba.
A todo tempo
a morte é quem desaba.

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