Fora da tua casa

Ninguém vê de fato a própria miséria . Enxerga , passa os olhos sobre o que dilacera a visão e caminha sobre a indiferença. Joga alguma esmola que suborna uma tentativa de mudança.

Ninguém vê de frente a própria indiferença . Enxerga de lado a impossibilidade de curar a miséria de tudo , a impossibilidade de curar seu fundo.

Mas a miséria não tem fundo . A miséria não tem casa para ficar , se proteger do medo do vírus , a miséria não se protege da morte ; e a morte vive caminhando ao largo dos lares que berram seu silêncio.

A todos tu mostras teu amor burocrático , distribuído entre os teus e a boa intenção voluntária de salvar o mundo , sem nenhum risco
de esbarrar num miserável , sem trabalho , preso à liberdade de morrer fora da tua casa , onde tua boa intenção abraça a vida invisível , sem risco , sem coragem.

A todos tu mostras teu amor covarde , que abraça o mundo e não toca um único ser ; teu amor covarde que não estende a mão a um único trabalhador trancado fora da tua casa ; trabalhador que rejeita a esmola do teu ideal ,trabalhador sem trabalho que tantas vezes é esmagado pela esmola de teu ideal.

A todos tu mostras o amor covarde por toda segurança que esmaga a liberdade que também não é a tua : porque tu também te aprisionas ao teu poder de esmolas indiferentes que impedem a fuga da miséria dos que fogem do conforto do teu lar .

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