não há descanso para o que vive. Não há descanso para o que deseja . Um coração bate do peito de quem dorme. Um sonho vive na consciência de quem o mata . Correndo a algum canto , algum sentido , me distraio na fuga da sombra do que não me deixa : um sorriso abandonado , um aceno negado , palavra enviesada , pedaço de alguém em mim enxertado. Me movimento para não pensar no nada que não existe.
Descanso a mágoa em outra dor , descanso as mãos do toque que não veio escrevendo este poema que toca na trágica dor que não houve . Nada porém descansa a espera esperançosa de ultrapassar a fome que nunca se esgota em sua saciedade . Tenho fome e há comida . Tenho desejo – há sexo . Tenho olhos – há o que ver. Mas não há céu suficiente que esgote minha visão . Não há visão suficiente que veja cada elemento infinito do céu que não mata a fome do meu desejo de infinito .
Não há descanso para a esperança sempre morta em uma vontade satisfeita. Todo desejo encontra sua morte- No consumo do outro . Ou no sacrifício da vontade – que se debruça em se matar pelo outro . Só o suicídio da vontade nos descansa – matando a fome na boca do outro que sacia sua vontade de céu .