Poema do amor estranho

Te amo tanto quanto te desprezo .
Tuas palavras banais , teus conceitos fetais tuas ações boçais
não conseguem salgar o doce
do gosto superficial e sublime
de cada gesto teu
que me deslumbra
e ultrapassa toda linguagem
ao alcance da razão.

Te amo tanto quanto me desprezo
ao te amar .
Tua superfície escancara um fundo
onde não me reconheço
e revira todos os meus conceitos
que se evaporam ao sol do teu encanto
que queima meus olhos embevecidos
com a própria cegueira .

Te amando amo não me entender
Tento ver teu fundo
e só enxergo o abismo
do que não sei de mim:
o abismo do que não sei
do que desejo em ti .
Amo em você não me reconhecer
Amo em você
destroçar minhas certezas
Te amando mato cada princípio lógico
que em mim habita .
Te amando
sou um cemitério de certezas
que apodrecem na Ressureição permanente
do teu cadáver que teima
em viver em mim .

Amo em você o princípio de me odiar :
Odiar a casca que envolve o narcisismo estéril
do que penso saber de mim , dos outros , de você , de tudo .
Tudo em você me convida a uma pergunta desesperada
que jamais respondo
sobre
a fundação do meu desejo ,
do meu sentido de viver ,
do meu precário sentido
de não querer morrer –
por teu desgraçado encanto
que me faz querer a mim mesmo sobreviver

Amo sobretudo minha rejeição fracassada
em tentar não te amar mais
nos odiando e amando
para fugir de toda tediosa paz .

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