Produtos precários .
A prostituta vende a ilusão sabida
de um afeto fingido:
quem ama de fato
compra seu ideal construído .
O jornalista vende fatos construídos
embalados pelo amor
à miopia de sua visão :
compra o leitor que absolve sua intenção .
O advogado vende a verdade do ladrão:
seu cliente que agride ou mata por amor
embrulha o ódio na maneira
com que rouba
o sentido de amar .
O juiz rouba sempre
um pedaço da história
que sempre condena
a própria miopia de sua sentença .
O cientista vende explicações objetivas
sem sentido a oferecer à graça da vida .
O psicanalista vende o inconsciente
que você nunca reconhece de todo
pelo preço do desejo que você castra
em nome da paz da civilização
que não te satisfaz .
O padre -como o psicanalista –
te vende a absolvição
pelo preço do desejo que você castra .
O filósofo vende perguntas e respostas inconclusivas ao preço
de mais perguntas e respostas
Inconclusivas .
o cirurgião plástico
costura por um tempo
um sentido de beleza que passa.
O poeta doa
o espanto sincero
sobre o que não entende
e sente. O poeta não mente :
costura a dor da falta de sentido
à trágica beleza breve
que nos arrasta .