Mais que justiça

Não é justa nem boa nem correta
a beleza
que arruina e apaixona e humilha
as sombras vivas
em redor de sua luz .
Não é justa a luz da visão
que sucumbe à desesperada
fome da beleza que jamais sacia
sua fome .
Não é justo ao cego
que engula o injusto tédio
de não sofrer o trágico desespero
pelo belo .
Não é justa a vida em sua indiferença
aos que se veem desesperados
por fome de beleza –
a indiferença
aos desesperados por sofrerem
a visão da beleza que os humilha .
Como um Deus precário
o homem injusto
Inventa a misericórdia
que humilha a justiça :
emenda a bondade à indiferença:
oferece uma mão ao cego
que tateia a beleza humana
que agora enxerga com as mãos .
Como um Deus precário
o homem injusto inventa
a misericórdia que
tirar de sua boca o alimento
para saciar
quem tem fome
e cria uma estranha beleza
para além da busca
dos apetites dos seus olhos .
Não é justa nem bela
a justiça que pela misericórdia
não se supera .

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