Mais que sexo

Uma dor penetra na outra .
Uma dor se derrama na outra
como um sémen que fecunda
a estranha misericórdia
entre corpos incompletos .
Nada tão excitante
Quanto a dor comunicada
entre dois corpos
A dor compartilhada
que rompe a paz tediosa
de um céu que desaba
na lama do desejo
em que nasce a flor de um
afeto cujo espinho finca
na carne sua cicatriz
que se abre à comunhão .
A miséria compartilhada
entre sombras de corpos incompletos
que se devoram se humilham
se desgastam num obsceno ato
de onde nasce um corpo misturado
que busca seu reflexo se emprenhando
da desamparada dor do outro.
Uma dor dói na outra
Uma dor suja limpa a outra
e de dores amalgamadas
Nasce um filho
que berra para sempre
as dores do crescimento
Ou um orgasmo
que suja para sempre
a impossibilidade
do vazio que
que se deixa penetrar
por toda dolorosa
tentativa de amor .

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