Teu corpo vai desaparecendo aos poucos
com calma obstinada
que incita um suave desespero
Vou recompondo a imagem desordenada
de tua presença quase ausente
que já se perde na memória
do presente que escapa
e se fixa
como promessa de cicatriz
curada
como promessa de eternidade.
E amo cada vez mais
tocar tua fuga progressiva
como se abraçasse a distância
que chega ao lugar nenhum
onde nunca me encontro
com tua ausência
E deixo cada vez mais de te ver
como se te visse em uma escuridão
que clareasse o turvo da matéria
como se visse o toque
como se te tocasse
com o que a visão não alcança
com o que a palavra não diz
E te enxergo
como poema nunca acabado.