Uma outra face
Dou-te uma outra face
em que ofereço
a reversa bofetada
que agride o afeto
com que acaricias teu mal
Toco tua indiferença
sangro as chagas do teu erro
crucifico teu abandono
ao pé da luz
que cobre tua ausência forjada
Enquanto cotidianamente
ressuscitas tua morte,
me ofereço à tua negada doação
conspurcando a sombra que te reveste
rasgando o ventre
da tua povoada solidão
Enquanto me ofereço
à tua rejeição obstinada,
recomponho o corpo
da generosidade desenganada
esculpindo em tua – nossa – carne lacerada
a obra em apelo
a uma comunhão desesperada.