Posses
Tudo que ousei não ter
sempre me pertenceu,
mais ainda o que me perdeu:
por direito e por avesso
foi meu
o grito preso
que não aconteceu
ecoado na memória do esgotamento
escoado no som oco do lamento
incrustado no corpo
pertencido e perdido
na lembrança
do que não ou quase fui
Mas ainda sou- incompletamente-
eu-
a mim não pertencido
por mim vencido
pelo que me oprime e me imprime:
ganho de posse do que nunca sendo
enche o fosso do tempo negado
sempre e novamente evacuado
furtivamente se oferecendo
Tudo que ousei não ser
sempre me valeu
mais ainda o que me venceu:
encontrado no perdido
hei ainda de possuir
minha reinvenção
no desacontecido –
minha ruína a se construir.