O lugar onde pisas
é o espaço do roubo
que pertence à cegueira clara
de minha inveja.
A inveja que me pisa
é o lugar que me roubo
de onde nunca estou.
Não estar em si
é espaço suficiente
para começar a caminhar
para algum lugar:
porque em si apenas
nunca se pisa em chão suficiente
sem o solo movediço de um outro.
Não há lugar suficiente
para ter ou ser o que se deseja.
Não há lugar ciente
do espaço que abriga
os passos do desejo
de ali estar.
Os braços com que abraças outro
enlaçam meu desejo – não de ti –
mas do desejo que ganha seu gosto
no despertar da vontade de outro sobre ti.
O olhar que se desdobra sobre ti
onde não te vejo
lambe meus olhos
que acariciam a cegueira
de sua presença sempre móvel
por onde meu desejo
cerca tua ausência.