2006-05-10 00:09:00

       
  

Pragmatismo quase utópico

De muito não me adiantou não ter feito o que não devia
Não me valeram virtudes os vícios não consumados
a não ser um nada beatífico, canonizado em esterilidade redentora
 
Não me valeram os andrajos dos bons conselhos
não tornaram menos insidiosa minha nudez encoberta
Caiu-me mal esta túnica de pele porosa
mapeada pelas erupções purulentas
dos meus desatinos não perpetrados
 
A bússola que me guiava paulatinamente me desorientava ao rumo certo
tornando palatável o caminho civilizado de fugas frugais
que me desencontraram de minha partida
Não se consolidou não serviu não adiantou a construção de um aprendizado:
soma torta de epifanias esquecidas
ao longo de uma cegueira mais alentadora
 
Meus utensílios mais caros são meus erros aglutinados
Meus tropeços construíram meu caminho enviesado
tangenciando minha espiral em direção ao equívoco
mais querido e primário da minha própria gênese
 
Enxergando pelas cicatrizes,
percebo ontem,cedo demais:
os destroços se recompôem candidamente, sempre
Supérfluas todas, as vitórias vão reverberando
sua fatuidade tediosa
 
As perdas são os verdadeiros ganhos que não angariam nada ao vencedor
 
Tudo é dispensável, tanto mais o estritamente necessário
Supérfluo é cada passo em direção a uma escolha
Plácidos são os prazeres vitais que deslumbram nossa desnecessidade
Inúteis são as dores que nos alimentam
 
E eis que se vê que não mais se interessa enxergar
E então me serve a armadura enferrujada de inutilidades em perspectiva
 
E pragmático, me empenho no uso dos desusos em questão.

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