2006-01-16 13:29:00

       
  

Loiritude paquistanesa

Na Índia, a onda agora é
branqueamento de pele para se moldar ao padrão de beleza
nórdico-ocidental.Vem aí um exército de Michael Jacksons veneradores de
vacas?Sabe-se lá.Mas cale-te boca que em matéria de esquisitices de
personalidade, o Brasil ganha de longe de todo mundo.Aqui, algumas
moçoilas pintam o cabelo de louro- platinado-amaralo-manga e esturricam
ao sol que nem misto quente.Mulatas suecas nas parágens tupiniquins. Por
aqui,até os critérios de subjugação racial são subvertidos.Mais
estrambótico que romance de Garcia Márquez.Aliás, quem precisa de
realismo mágico com um país assim?

Mas o negócio é o seguinte:além das questões
sociológicas de dominação sócio-etno-econômica e outros blábláblás, o
fato é que todo mundo mais cedo ou mais tarde enjoa de si mesmo.Uns com
mais , outros com menos frequência.A mudança na cara, na pele, no
cabelo, no dedão do pé é apenas uma manifestação exterior de um enfado
geral consigo mesmo.Nada de mal nisto.Melhor que narcisismo patológico
que invariavelmente em escala coletiva recai sempre no mais hediondo dos
disfarces do mau caratismo, o famigerado patriotismo.E, ora, ninguém
melhor para odiar a si mesmo com devida acuidade que o brasileiro.Odeia
seus políticos, suas origens, sua cultura e tenta de toda maneira se
desvincular de sua imagem.Os mais medíocres fazem o trabalho de
descaracterizar a própria cultura, como por exemplo distorcendo
o samba, a música sertaneja e outros estilos botando tudo num saco
pasteurizado em que se cria uma espécie de bolerão de cais de porto,
para usar uma expressão de Julio Medaglia.Os mais refinados( e
endinheirados) saem do país e dão uma banana para o bananão, como
fez Ivan Lessa.Os que ficam falam mal da própria terra em ritmo de
catarse libertadora(sim , o meu grupinho) ou pintam o cabelo de laranja e
vão tomar sol em Ubatuba até ficarem azuis.

Sim, sim, as perspectivas dos remanescentes não são
muito boas, mas as dos fujões também não são.Senão vejam o exemplo do
próprio Ivan lessa que não pisa em solo tupiniquim há trinta anos.Lessa
claramente tem pavor do Brasil, mas sabe que o país está entranhado em
cada póro seu, apesar de viver em solo britânico.Tenta ser
pedante,blasé,sofisticado, culto, engraçado(e o consegue)mas só o faz em
português, língua pela qual tira seu sustento.Não adianta, não se exila
de si mesmo.Seus trejeitos, humor e maneirismos são os mesmos dos quais
ele debocha:tipicamente brasileiros.Enfim, um caso clássico de amor e
ódio a si mesmo.

Nada contra, nada contra.Muito pelo contrário.A maior virtude
brasileira é esta mesma ambiguidade fruto do próprio auto
desconhecimento somado a doses de  esquizofrenia social, política,
artística, étnica e cultural.Um não-sei-que que impede nosso avanço
econômico mas contribui para a melíflua, lúdica e epopéica falta de
caráter tupiniquim.Com as devidas madeixas aparentemente louras
sobre a pele emplastrada de bronzeador.

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