Pele deserta
Sugava exasperado o leite já seco do seio negado
Sorvia ávido a afirmação atávica de uma negativa atemporal
tatuada na pele onde se estabelecia o desenho estratificado
do abismo entre um corpo e outro
entre mãos que nunca se deram
entre braços que nunca se enlaçaram
entre vozes que nunca ouviram o eco de um desejo imemorial
O muro edificado de complacentes intenções ao vento
Entre pontes próximas o nada materializado
dando livre vazão à não respiração dos póros
de um castelo insuportavelmente seguro
A não obtenção de respostas em resposta
à não formulação de perguntas
(utopia da única comunicação possível)
Ainda esta profusão de vozes
berrando surdas silêncios estridentes
Ainda este toque não consumado
abandonando mãos espalmadas em busca de matéria viva
Mãos em interrogação desesperada
eloquentes em sua descompostura patética
Corpos que não se misturam
que não atendem ao apelo ancestral
de uma mútua dilaceração
antes cultivam a sede que incita a ânsia infinita
Tempo que não se coaduna ao desejo de uma novidade já gasta
já esmaecida pela lembrança de um mesmo rosto colado ao próximo
de um mesmo seio negado onde se suga novamente
o mesmo leite outrora e já outra vez seco.