Sob a marquise do edifício ,brotam lado a lado
um jardim e um mendigo que furam a ordem
do concreto da cidade .
Um recorte da natureza cuidada pelo homem.
E o homem abandonado pelo homem
ataca os olhos dos transeuntes chocados por tão curiosa desnatureza.
O jardim floresce ao dia
oferecendo um laivo de beleza
no cinza que o passeia .
O mendigo brota à noite ,
doando o abandono à madrugada dos passos que o desviam , humilhando o jardim ,
que anoitece sua cor diante de tão miserável esplendor
que cala sua beleza .
De dia , cria – se um dispositivo
– um método asséptico, limpo-
para molhar o jardim a cada quinze minutos
e secar a presença desenraizada do mendigo ali plantado .
O abandono do homem é podado enfim
aos olhos e passos que contemplam , dia e noite , o jardim bem cuidado
que ora respira a ausência
da miséria evacuada
do homem abandonado
que com o jardim habitava .
Uma beleza miserável passeia
aos olhos do encanto indiferente do jardim ,
que ora se incorpora
à ordem do concreto da cidade .