Autópsia de um sobrevivo
Parcelo minha morte em prestações a longo prazo
suicídio decantado cotidianamente balanceado
morte que se conduz em cada renovação preterida
morte fragmentada reordenada em perspectiva cubista
Brotará deste ajuntamento desvairado um feto renascido
úmido da placenta de um corpo recomposto em ângulos retorcidos
que servirá de alimento inesgotável à memória do que não fui
saciando a fome dos que planejam esboços sólidos de corpos esquartejados
Minha morte se produz ontem, quando decido continuar
Meu corpo em movimento é adubo fértil de colheitas vindouras
que revelarão em horizonte promissor
a reedificação de uma vida fragmentada
redimida em negociações excusas
entre minha sombra e meu cadáver duvidoso
Morro vivo ressuscito ontem hoje amanhã
Meu tempo é sempre
Ou nunca, se preferirem
O cadafalso é que me ergue na descida
onde finalmente sorri minha autópsia viva e pulsante.