2005-07-17 21:21:00

       
  

Vícios públicos, falsas virtudes privadas, benefícios de nenhuma espécie

Sempre tive birra de Belo Horizonte,
minha cidade.Provinciana, sem caráter,elo difuso entre uma pretensa
sofisticação urbana e uma caipirice incrustada, Belo Horizonte coaduna o
que há de pior em uma cidade grande com o que há de pior em uma roça.Os
preconceitos jecas se somam ao caos urbano.

Mas algo nesta somatória de negativas acabou por me
surpreender.Sendo eu original dos meios de comunicação,sempre olhei com
um muxoxo tanto a imprensa quanto o mercado de publicidade
beloriozontina, que, salvo raras exceções individuais, são compostas
pelo que há de mais medíocre no cenário nacional.Qual não é minha
surpresa quando percebo que minha doce metrópole se tornou o centro
financeiro da corrupção nacional.Isto tudo partindo de duas agências
publicitárias, ora vejam.Se a publicidade mineira não dá para o gasto
para consumo visível, então produz implicitamente a imagem extremamente
bem concebida da desfaçatez mineira, a popular cultura do come quieto,
ou do corrompe quieto, se preferirem.

Disse estar surpreso? Bem, nem tanto.Nada mais
sugestivo do caráter belorizontino que firmas de publicidade que , em
princípio, visariam tornar público determinado produto, mas fazem coisa
bem diferente:escondem o público através de negociatas privadas com os
dividendos da coisa pública que, por sua vez, financiam os interesses
privados de homens públicos.

Confusa a equação da última sentença, não?Mas é assim
mesmo que funciona a tradicional cultura mineira, em especial a de
minha querida metrópole.A discrição mineira decantada em prosa e verso
fazem de Belo Horizonte a cidade ideal para palco de equações complexas
que revelam, ou melhor, que tornam mais ambíguo o tal caráter
mineiro.Aqui, nada se vê,mas tudo se cheira ao longe.Os sentidos são
sempre oclusos, enviesados, escorregadios, como uma sinestesia
meticulosamente planejada.

Por isto, meu caro leitor não residente em beagá,
quando ouvir falar da tradicional discrição e reserva de um mineiro,
fuja correndo.No Brasil, temos várias nuanças de mau caratismo:a
explícita malandragem carioca, a canalhice fria e objetiva paulistana, o
primarismo medieval nordestino, e outras mais.Mas nenhuma delas se
compara à sordidez lânguida e melíflua de um mineirinho desconfiado.O
mineiro desconfia justamente por não confiar em si mesmo, porque sabe de
antemão do que ele é capaz.Claro, a falta de caráter não é vício
exclusivo da mineiridade.Mas há esta maneira mais enviesada de lidar com
a própria canalhice, esta auto consciência de ser canalha e de
desconfiar da canalhice alheia, já sabendo antemão da própria.O extremo
oposto, por exemplo, de uma certa ingenuidade da canalhice carioca que
se proclama canalha aos berros.O mineiro , por sua vez, é canalha em
silêncio.Marcos Valério que o diga.

Você, caro leitor, poderia estar se perguntando por que diabos
confiaria em um belorizontino que escreve coisas abomináveis a respeito
de Belo Horizonte e dos seus conterrâneos.Não posso lhe responder,
prezado leitor.Afinal de contas, sou um belorizontino e mineiro
discreto…

  

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *