Cronologia da dor perene
Dói não sei onde
em foco que não se percebe
em pele que não reveste
em carne que não se sente
Dói a mesma ausência anestésica
Dói em horizonte projetado
Dói na inconsciência
Dói a inadimplência dos rumos
Dor física e metafísica
dor de origem inconcebida
origem desnaturada
natureza sem gênese
Metástase concêntrica sem centro
Dor evasiva invasiva ubíqua
Dói no prazer de amar
Ama-se no prazer de odiar
Dói a cópula de viver
Dor incondicional
condimento do prazer
O corpo que sustenta a dor
responde como seu próprio unguento
A dor sustenta o alívio
dos devidos vícios necessários
à manutenção da virtude maior:
a dor de amar e nada receber
prazer mórbido de doação inútil
dilaceração das chagas na oferta em vão
Continuar é doer indefinidamente
masoquismo perpetrado estratificado
nos dentes do sorriso da tortura complacente.