Gravidade
A queda é livre, lânguida e constante
Cai-se de pé permanentemente
quando se pensa andar para a frente
Cai-se porém não para baixo
mas para o centro
(Chão:ilusão delimitadora
Impasse obstruindo a livre passagem
para algum cerne impalpável
Limite permeável de uma queda fictícia)
Destino convergente para incerto âmago
sucção irreversível de tudo, nada e algo mais
atração inviolável entre os corpos
desejo tácito de se tornar eixo
que se esboroa
no caminho da colisão
Pulsão de aproximação
Pulsão de choque:gravidade
Viver: cair aparentemente
não para baixo pois chão não há
mas para um centro em horizonte incerto
A queda é ascese para o corpo mais próximo
Fim e princípio frutos de uma mesma
miragem estratificada de terra plana
Atração e repulsão
Amor e ódio
frutos de um mesmo sentido
de atração inviolável entre os corpos
(Flutua à deriva a indiferença,
Sorrindo de nossa gravidade)
Corpos soltos ao léu que se prendem
por força indelével ou desapego à solidão
Corpos que aspiram ao paradoxo central e redentor:
fusão impossível, choque inarredável
Deitar-se como única tentativa plausível de libertação
Anulação bufa de uma queda farsesca:
Tornar-se plano como planície inexistente
Tornar-se chão como chão inexistente
Tornar-se centro como complacente colisão entre os corpos
E então levantar-se e cair para cima.
E tornar-se céu, este deslimite também ilusório.