2005-06-13 01:38:00

       
  

A perigosíssima invasão dos novos bárbaros

Conheço pessoalmente uma meia dúzia
de antropólogos e mais uns tantos que já vi e ouvi
‘’midiaticamente’’.Todos eles usam ou já usaram rabo de cavalo,
cavanhaque e óculos, simbolizando uma extravagante simbiose de acadêmico
com cacique Cheyenne .Parece haver um simetria estética na atuação
deste grupo, o que de certa forma vai contra as premissas de libertação
cultural da antropologia.Há por parte destes senhores uma preocupação
tão intensa em parecerem liberais quanto a usos e costumes que acabam
criando um padrão de libertação de vestuário, aparência e
comportamento.Resta avisar a estes senhores que o conceito de
‘’libertação’’ não se coaduna ao de ‘’padrão’’.

Vejam bem, a coisa parece ser bobinha, mas não
é.Antropólogos ganharam status demais no século passado e têm uma
tendência inexorável à chatice e ao discurso oco, além de , em geral, se
vestirem muito mal.Oh, longe de mim desmerecer os pressupostos básicos
da antropologia, ciência emérita que se propõe a estudar as origens e a
cultura do homem.Mas convenhamos que certas adjacências da antropolgia
configuram a base de todo o porre do século xx, que se arrasta(m) pelo
comecinho deste novo milênio.

Dois dos mais graves são o relativismo e a abstenção
de juízos de valor, que no fundo são a mesma coisa.Para o relativismo
antropológico , uma sinfonia de Beethoven tem o mesmo valor simbólico
que um batuque tribal de Uganda, e assassinatos podem ser tratados como
normais, dependendo do contexto religioso, étnico ou regional.

Acham que é exagero?Pois bem, um certo antropólogo,
antigo professor meu de faculdade chegou a comparar a castração de
mulheres em regiões da África à depilação das mulheres
ocidentais.Segundo este meu ex-professor, tudo isto faz parte de um
contexto de violência consentida culturalmente ao corpo.Sério mesmo.Ele
dizia isto alisando os longos cabelos grisalhos e coçando a barbicha de
indígena intelectualizado e sabichão.Quando eu, obscurantista
etnocêntrico que sou(nos dizeres dele), quis protestar contra este
liberalismo amoral, o liberal professor me condenou a entrevistar
inúmeros metaleiros evangélicos como castigo à minha insubordinação
contra a sua tese de ampla liberdade de pensamento…

Pode parecer piada, e é mesmo:uma piada real e de mau
gosto.Se fosse apenas pela chatice endêmica destes antropólogos, eu
sequer escreveria isto aqui.Mas acredito que a abstenção de juízos de
valor não seja apenas um formalismo tolo e intelectualóide.Ao contrário
do que almeja, ele promove a antipatia entre diferentes culturas, ainda
que seja uma antipatia velada por pudores politicamente corretos.Quando
fiz as entrevistas com os tais metaleiros evangélicos, a despeito de um
sorriso complacente que ofereci a todos eles, tinha vontade de dizer a
todos que Rock é coisa do capeta mesmo(e olhem que detesto Rock
também).Não dá, entendem?A cultura é um processo competitivo, em que os
melhores sobrevivem.Acredito em uma hegemonia ética, moral e
artística.Não me sinto no dever de respeitar quem castra mulheres por
preceitos religiosos ou quem diga que o Axé Music tem a mesma
importância cultural que a obra de Bach.O relativismo antropológico
comedido é chatinho.Mais amplificado, torna-se nefasto.

Por isto, cortemos os cabelos de pajé destes pseudo intelectuais e
incutamos nas cabeças deles que todo ato de pensamento é, em si, um ato
de julgamento.Estamos condenados a julgar tudo aquilo que vemos, com
maior ou menor grau de erro, dependendo do poder de avaliação crítica
estética, moral, ética e intelectual de cada um.Eu, por exemplo, tenho
horror à Heavy Metal(seja de Deus ou do diabo), castração de
mulheres,Axé Music e antropólogos cabeludos com cara de índio
nambiquara.Sobre estes últimos, como um gentil homem ocidental, devo
dizer enfaticamente:são uns bárbaros.

  

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