Graça

Que recompensa há na casa silenciosa
após um dia de trabalho após uma vida de contas
que se pagam do salário que salga o broto
de um corpo adormecido pelo tempo?
Após um dia de esforço
o quarto que o espera
vazio de sentido
vazio do desejo da mulher que o ama
com o afeto de quem lhe rega
como uma planta
que alimenta a água
que o espalha.
Após a vida de esforços
o sorriso do filho que se vai
colher os cansaços do pai
que sacia sua sede de perguntas
no broto da água que jamais permanece
no líquido repouso de quem refresca.
Que recompensa há no milagre da matéria viva
que jamais reponde sequer
à pergunta do prazer
que se espalha como água
que jamais sacia
a sede do seu jarro?
Nem tendo feito o que se devia
doendo como se havia
repousa esta água cristalina
que à própria paz inebria.
Jorra de um outro
e mais outro corpo
a graça
que na sede se cria.

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