Compota de papa em conserva
Mal foi eleito papa, Ratzinger já
angaria antipatias por todos os lados pelo seu suposto
conservadorismo.São tantos os ataques vindos de gente tão esquisita e
suspeita que eu já sinto simpatia pelo homem.Primeiramente, me faz rir a
expectativa de uma visão moderna em uma instituição milenar que prega a
existência de anjos e demônios.Por mais que a igreja se imiscua em
assuntos terrenos,seu território é o além.E Deus, que eu saiba, não se
modernizou desde o novo testamento, preferindo a eternidade à
modernidade, o que faz Ele muito bem.Certos modernismos são tão
enfadonhos e voláteis quanto algumas vanguardas que não duram o espaço
de uma geração boboca.
Mas voltando:minha simpatia por Ratzinger reside
justamente em alguns pontos em que ele é severamente criticado.O homem é
acusado de não ter carisma.Ora, para que serve carisma?O conceito é tão
vago e disperso que cabe em qualquer contexto fajuto.Sempre que me
falam em carisma, lembro de Lula falando sandices e sendo aplaudido por
uma multidão comendo farinha com rapadura, ou de um Elvis Presley gordo
vestindo macacões tenebrosos requebrando para uma platéia de
patetas.Carisma já é uma arma perigosa na mão de líderes políticos, que
dirá na figura de um líder espiritual, que tem o poder de inventar o que
quiser basendo-se em quimeras teológicas.Pelo menos o sujeito leva a
sério sua crença em uma verdade absoluta e, por mais que possa estar
equivocado, age de acordo com regras estritas e não prestando culto à
sua própria personalidade.O perigo de um papa carismático é ele achar
que pode usurpar o trono de seu chefe maior, o tal Todo-poderoso que
reina nos céus…
Dizem também que o papa odeia Rock e música Pop.Acha
que são apelos à uma espécie de adoração coletiva que rivaliza com a
adoração religiosa a Deus.Podem argumentar que qualquer tipo de adoração
é pueril e ridícula, mas ao menos a adoração a Deus reside em uma
filosofia que, apesar dos tropeços, reside em uma idéia de amor.E, cá
entre nós, prefiro uma adoração com uma liturgia que entrem Bach e
Vivaldi a ter que adorar cabeludos tatuados grunhindo e se
esguelando.Esquecendo o lado psicossocial da coisa, o lado estético da
igreja católica ganha de longe do universinho medíocre do pop.Ponto para
o bom gosto de Bento 16.
Ratzinger também odeia o relativismo, e acredita em
uma verdade una.Se vai conversar ou não com outras correntes filosóficas
e religiosas que não a dele, é por pura ‘’misericórdia’’ daqueles que
considera ignorantes na fé e no pensamento.E aqui tenho que confessar
que tenho certa inveja desta sua arrogância quase casta.O homem
realmente acredita que exista uma verdade, entendem?Coisa que não
consigo fazer desde os meus seis anos de idade, quando descobri que
papai Noel não existia.Ratzinger me remete a uma saudade epifânica do
consolo da existência de uma verdade absoluta, daquelas que se
podem tocar e tudo.E mais:Bento 16 dá uma banana ao relativismo
antropológico que reina na mediocridade pensante das universidades.Como
posso não gostar dele?Me sinto quase como um filho que não concorda com o
pai, mas endossa todas as suas atitudes.Papai Ratzinger,papai bentinho.
Meu santo padre, que mesmo podendo estar absolutamente errado, me
convence pelo comportamento digno e probo.
Ratzinger é um papa anti pós moderno e só por isto já
é um ídolo para mim, ainda que pregue a estagnação do tempo em uma
eterna idade média(ninguém é perfeito, ué).Não me interessam coisas como
a ordenação de mulheres, voto de castidade, eleição de bispos e
cardeais, que isto é assunto e picuinha interna da igreja.Eles que se
entendam.Estes padrecos que criticam Ratzinger na verdade querem que ele
reforme a vida deles, padrecos querendo uma fatia do poder.Outros
assuntos como uso ou não de camisinha, pesquisa de células tronco não
são da competência da Igreja, e acredito que Ratzinger saiba disto,
embora não possa dizê-lo abertamente.Sexo, ciência não são o forte dos
clérigos. A Igreja se mete nestas coisas de intrometida que é e
sempre julga mal, vasculhando, pensando e inquirindo errado.Galileu
Galilei que o diga, que sofreu o diabo por afirmar aos bispos que a
terra era redonda…Aliás, desconfiam de Ratzinger por ele, a grosso
modo, ter sido um inquisidor da Igreja Ora, mas hoje a Igreja não queima
mais ninguém, no máximo manda calar a boca de alguns marxistas de
batina.
Na verdade, a Igreja tem que cuidar de assuntos do além, ainda que o
próprio Cristo tenha dito que o reino dos céus é aqui mesmo( o inferno
também, digo eu).Mas Este sabia mais das coisas que Ratzinger e de todos
aqueles que se proclamam cristãos, mas não entenderam bem o espírito da
coisa.