2005-04-11 05:14:00

       
  

Tratamento de tumores benignos

Há algo de edificante e até mesmo
conciliador na inveja.Primeiro porque é um sentimento democrático.Todos
sentem ou já sentiram, em maior ou menor medida, uma certa admiração
contrariada por alguém, ou seja, o desejo de posse das virtudes ou dos
méritos de outrem, seja de pessoas próximas, parentes,amigos, namoradas
ou mesmo de certas personalidades projetadas.Inveja é mais democrático
que amor, e menos trabalhoso.Amor envolve sacrifício.Já a inveja brota e
permanece naturalmente e seus malefícios são superestimados, a meu ver.

Senão vejamos.Ora, a inveja pode servir como
propulsora e incentivadora dos talentos.Quem já não se sentiu diminuído
pelos talentos de outra pessoa e não se sentiu compelido a superá-la na
mesma área de atuação?(Ah, e não confundam inveja com desprezo.Há uns
bem sucedidos por aí sem nenhum talento que não têm nada a ver com a
inveja como instrumento benéfico de que falo.São excrescências socias,
não seres generosamente invejáveis).Mas voltando,se as virtudes fossem
todas equiparadas e todos dependêssemos da simples generosidade do
próximo, a humanidade morreria de inanição física, espiritual, artística
e social.O que move o mundo é a ambição e não o amor.Ao contrário, o
amor, embora um nobre sentimento, tem o poder de destruir egos e arrasar
talentos pessoais.A inveja, um sentimento mesquinho, é capaz de
estimular o indivíduo a superar o próximo e , por conseguinte, superar a
si mesmo para alcançar o seu objetivo, e desta maneira contribuir ainda
que inconscientemente para o aprimoramento da coletividade.Um poeta que
tenta superar outro, um médico, um empresário ou sabe-se lá o que mais,
tudo em benefícicio do próprio ego, e que, de uma maneira torta(mas
objetiva) irá contribuir para o enriquecimento da sociedade.Sim senhores
, é isto mesmo que todos estão pensando:a inveja é condição primordial
para o liberalismo econômico e para o própria estrutura do
capitalismo.Vícios privados , benefícios públicos, lembram?.Em suma,
,uma mesquinharia pode muito bem se transformar em uma virtude,
dependendo de como se trabalha o contexto e a tessitura desta
mesquinharia.

Assim com tudo na vida.Sejamos claros:não existe uma
pureza primordial que guia a natureza humana, muito pelo
contrário.Rousseau era uma anta.Não existe bom selvagem, mas um péssimo
selvagem em cada um de nós.Somos todos canalhas egocêntricos em
potencial. Não há uma nobreza essencial em nenhum traço de nossa
personalidade.A única nobreza possível é tentar trabalhar esta nossa
mesquinharia de maneira a tentar sufocá-la e, quando possível(como no
caso da inveja),transmutá-la em uma virtude a bem coletivo, sem os
pressupostos ingênuos do socialismo.Se o homem é o lobo do homem, então
não neguemos esta natureza predatória, mas sim tentemos ajustá-la a um
nível em que esta ferocidade e competitividade nos traga frutos.Este é o
princípio da civilização e, de maneira enviesada, da própria
psicanálise:não tentar domesticar os maus instintos humanos, mas
adaptá-los ao convívio social, para que a caça seja justa e que os
vencedores façam de sua vitória uma virtude que alimente não só o
próprio ego, mas a barriga(física e metafísica) de toda a sociedade.E
que os perdedores tenham inveja suficiente para continuar tentando
superar os vencedores e a si próprios, ou enquanto isto não acontece,
sigam provando dos frutos dos vencedores.Tudo, claro, para o bem egoísta
de cada um e, concomitantemente, para o bem geral de todos.Sim, sim, é
no paradoxo que reside a verdade.Se não a verdade, pelo menos uma justa
adequação de meios.

Claro que há injustiças e trapaças aqui e acolá, mas isto não muda as
regras do jogo.Vencer é ótimo, invejar é terrível e a grande maioria é
de invejosos, posto que a grande maioria é de vencidos, em todas as
áreas humanas.Todas.A questão é como trabalhar este fracasso.E
fracassados que sabem tirar proveito de suas derrotas são vencedores
mais espertos do que aqueles que os vencem.Mas esta é uma outra
história…


  

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