Era vaidoso de sua generosidade;
devorava o mérito de sua contribuição
projetando a retribuição que jamais receberia
no cálculo de sua redenção.
Comia transcendências,
prescindia do divino
para devorar sua fome insaciada
na ingratidão daqueles
em que vomitava perdão.
Sabia ao certo
do desacerto
que é ser bom,
como um penduricalho
em roupa simples e surrada,
quase avessa a qualquer beleza
que a excede.
Sentia-se assim
como uma bijuteria
que imita o brilho
de uma joia inacessível a todos,
a ele inclusive.
Invejava, entredentes,
a nudez sem brilho
dos que se vestiam
de seus apetites,
que coroavam a joia opaca
de seus desejos mais simples;
invejava o criminoso abnegado
que se contentava com o orgulho
da sombra assassina.
E, orgulhoso de sua inveja,
se martirizava em êxtase
com seu crime inconfessado.