A cara nacional
Leio aparvalhado um artigo de uma
célebre revista cultural em que intelectuais e artistas elegem o funk
carioca como a mais recente revolução cultural do país.Leio de novo.E
não, não é fruto de alucinação ou sintoma de esquizofrenia.É fato, a
coisa foi realmente escrita, e está lá em letras garrafais:o funk
carioca, aquele mesmo do ‘’bonde do tigrão’’, e de outras preciosidades,
a mais nova revolução cultural do país.Seria de se espantar,de rir a
gargalhadas, se não fosse uma prática mais que constante da chamada
intelligentsia nacional.
Há muito que se mascara a flagrante decadência
cultural e artística do país com artifícios politicamente corretos como o
de eleger bobagens popularescas como sendo autêntica representação das
raízes e da arte do povo brasileiro.O que não deixa de ser verdade.De
fato, o tal funk carioca é representativo do povão, e representa tudo o
que há de pior, de mais podre e vulgar que há no povão;uma autêntica
representação de uma mandrágora, ou das raízes de um pé de
funcho.Os instintos básicos e mal cheirosos da massa.E agora elevados à
condição de manifestação artística revolucionária pela
intelectualidade.Revolução de que, eu pergunto?A humanidade agora seria
salva por uns tantos glúteos superdesenvolvidos e cantores desdentados
com cara de tarado?A cara revolucionária brasileira seria a bunda das
mulatas e de loiras tingidas?
Se sim, então poderia se dizer que o pensamento desta
‘’intelligentsia’’ brasileira seria a flatulência nacional, que espelha
com louvor as manifestações mais recônditas do caráter nacional, as da
bunda.Mas flatulência é uma palavra aristocrata que não combina com a
verdadeira linguagem do povão, então digamos mesmo que o pensamento
brasileiro é um grande peido sofisticado, oriundo dos intestinos da
nação.
Há uns bons anos, grande parte desta
intelectualidade, especialmente a do meio artístico, parece pedir
desculpas ao populacho pelas desigualdades sociais toda vez que abre a
boca.Ora, isto seria função de políticos, muito mais que de artistas e
intelectuais.A segregação popular é fruto de injustiça social.Esta regra
crescente de celebrar o pior desta cultura popularesca com um eterno
pedido de desculpas é a mais flagrantre manifestação da atrofia da arte e
do pensamento.A arte nasce da exceção, não é manifestação de tribos ou
tradições, sejam elas populares ou aristocratas.A burrice, o mau gosto, a
vulgaridade não têm origem sócio-econômica e são distribuídos
democraticamente a todos os grupos e pela maioria das pessoas.
Em nada contribui passar a mão na cabecinha do
populacho como se este fosse um artista em potencial ávido por expressão
e voz.Sou pela segregação do mau gosto.Direito à voz todo mundo tem ou
deveria ter, mas apologia à esculhambação em forma de estudo
sócio-artístico-antropológico do funk carioca é dose.Contra esta prisão
de ventre calcada pelas diferenças sociais no Brasil, alguns artistas e
intelectuais sugerem o uso de supositório social que descarrega a livre
maifestação dos anseios populares, provocando uma desinteria
catastrófica, cuja ‘’matéria prima’’ é a suposta arte das massas, como o
funk carioca e subgêneros.
Não creio que a apologia do mau gosto seja característica exclusiva
da nossa cultura tupiniquim.Mediocridade grassa em qualquer canto do
planeta.Mas creio que traduzir os ideais de liberdade , igualdade e
fraternidade para libertinagem, suruba e vulgaridade é virtude exclusiva
da mente pensante brasileira.E isto tudo com veio artístico e coisa e
tal.Pura e autêntica manifestação da célebre face da nação, da aqui já
citada cara nacional.E que cara.