Introdução à obviedade
Ali, onde as verdades absolutas escorrem pelo ralo
podres, gastas pelo uso de mãos indevidas
ali, onde ninharias tergiversam por falta de assunto
até serem varridas de vez
como poeira de construções mortas
Lá, onde se ama direto, sem viés, sem tangentes,
sem jogos de dados, sem encruzilhadas,
onde se ama como se respira diafragma contínuo
natural e involuntário que prescinde
da abertura de caminhos em meio a mata fechada
Espelho coletivo refletido em uma só íris
Paraíso próximo, a um passo do toque,
impedido pela paralisia dos membros
pelo cansaço dos olhos baços, pela gangrena
acumulada em atemporalidades de letargia
Paraíso equidistante entre razão esmaecida e inação consignada
feito longe pela preguiça entranhada
em pernas já corroídas pelo tempo desperdiçado, pelo andar para trás
linha reta entortada pelo peso dos entulhos de um passado sempre presente de máculas, de passos cegos
guiados pelas vozes da turba sempre ciosa e orgulhosa dos códigos de sua estupidez calculada
Oásis visível, maior que o próprio deserto que o circunda
obliterado pelo uso das vendas voluntárias,
pelo correr atrás das próprias sombras como forma de salvação.
Suave gosto de frutas campestres e delícias ao longe.
Longe,ainda que tão perto.
Aqui,onde toma-se o deserto periférico pelo centro
Aqui, onde toma-se a caverna pelo lado de fora
Pouco ou quase nada a ser feito neste lugar nenhum
Nada, a não ser um passo.