2005-02-04 19:57:00

       
  

À espera

Pausa para descanso.Carnaval, semana santa, São
João, boi bumbá e sei lá mais.O Brasil é uma pausa permanente.Esquecemos
o passado, abstraímos o presente e vivemos do futuro,
sem lembrar que este é construído atrvés dos outros dois tempos
mortos em nossa cabecinha .Talvez não por acaso, pouco tempo depois
de ter dito que o Brasil era o país do futuro, o escritor Stefan Zweig
suicidou-se.Não deve ter suportado a espera por um tempo utópico.Tamanho
hiato entre um começo inexistente e um fim invisível é um nó metafísico
mais que insuportável para a cabeça de qualquer um.

O Brasil vive eternamente à espera de dias
melhores.Se engana facilmente, vota em utopias furadas, acredita em
promessas estéreis, se revolta, mas sempre volta ao ponto de partida da
esperança vazia.Não move uma gota para dar um passo adiante, sobrevive
de suas ilusões de porvir baseadas em sua fé cega.É um ranço eterno do
catolicismo entranhado no sangue e nas almas dos nativos da terrinha: a
contemplação, a espera que chegue do céu o milagre.Muitas testas já
foram rachadas por este vislumbre das alturas, mas não adianta.O
brasileiro é um bravo:insiste em esperar permanentemente de braços
cruzados.Somos um povo que tem horror à ação.Nossos maiores personagens
literários são Brás Cubas e Macunaíma, heróis da ociosidade.Só nos
esquecemos(a maioria, leia-se) de tirar proveito do trabalho alheio,
como estes mesmos personagens.Por falsa desonestidade ou por
incompetência mesmo.Somos explorados e ainda temos a pretensão de nos
proclamar ‘’malandros’’.Somos ingênuos ociosos e apalermados.Crédulos
infantis, acreditamos em nossa suposta esperteza e malemolência e
confiamos crédito à nobreza de gente que é mais suja que pau de
galinheiro.Malandros.Sei…

O brasileiro é como um mal amado, um apaixonado
platônico, sempre à espera da mulher amada, que o despreza, o espezinha,
o ridiculariza.Mas não abre mão de achar que um dia ela ainda será
sua.Como todo apaixonado, o brasileiro é um tolo.Como todo apaixonado
não correspondido, o brasileiro é um tolo trágico.Porque não consegue
deixar de sentir o que sente pelo seu objeto de desejo, porque não
consegue deixar de perseguir o sonho de obter este objeto de
desejo.Patético porque não sabe os meios para se obter este mesmo objeto
de desejo.Sem opção, continua desejando a sua ‘’mulher amada’’ sempre
inacessível, sempre distante, rindo do pobre pierrot ridiculamente
esperançoso.Aparentemente(um eufemismo aqui) esgotadas suas chances,
resta ao Pierrot tupiniquim esperar e fazer de sua espera a sua vida,
construir seus sonhos em sua esperanças vazias e preencher estas mesmas
esperanças de confete e serpentina.Já confuso, o brasileiro confunde a
espera mesma com a ação, e toma a pausa pelo seguimento dos fatos, toma o
carnaval pela realidade;constrói uma festa artificial e supre a sua
criada realidade(ou falta de) com seus desejos quase exauridos, mas que
não se exaurem nunca.

O brasileiro torna-se assim mestre em substituir a
realidade pelo sonho, a roupa pela fantasia, e sobrevive desta maneira,
de ilusão em ilusão, vez em quando topando em uma pedra dura demais como
a enfadonha realidade que teima em acordá-lo da vida que é sonho e que
ele toma por realidade.A realidade para o brasileiro é o pesadelo, um
sonho ruim.E aqui, certamente, ele tem razão.

O brasileiro é um feriado eterno.Só que embola as datas.Pensa que a
vida toda é carnaval, quando a maior parte do tempo é Quarta feira de
cinzas, ou pior ainda:a maior parte da vida é Sexta feira da paixão.


  

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *