Em uma balsa cabe
incomodamente todo um país
em doze , treze pessoas
que acomodam dentro delas
o incômodo de um lar exilado,
desterrado da liberdade de caminhar
em solo que não seja todo este oceano
que o separa de seus pés.
Em um homem
cabe o aceno desesperado
de um chão.
Cabe incomodamente
o oceano em que naufragam seus pés
que caminham por onde rejeitam
sua possibilidade de chão,
onde caminham seus mortos e mortes
que respiram por onde seus olhos os veem
e escondem.
Em um chão
cabe um homem
que caminha e respira
por todo um povo afogado
pelo solo firme da ausência
de lugares países
onde nada mais cabe
além da indiferença.
Em um homem
cabe a exílio de sua humanidade
Cabe a mão
que resgata do oceano
sua possibilidade de chão
que se afunda
em possibilidade de céu.