O teatro da curva
Há certas expressões que, pelo uso
exaustivo, apodrecem.Há outras ainda piores que são usadas
ostensivamente para tentar(em vão) mascarar a mediocridade e o vazio do
autor que as emprega.Querem um exemplo clássico?’’Condição
feminina’’.Querem uma pior ainda? ‘’Essência feminina’’.Já chegam a
feder estas duas, de tão podres.
Pois
pasmem que eu vou tentar escrever algo sobre a a condição(ai…)
feminina sem cair no ridículo e sem pedir perdão à Madam Beauvoir,
autora da expressão, cujo maior feito filosófico foi o de ter se casado
com seu bom marido Jean Paul Sartre.
Então lá vai:
Há
algo de intrinsecamente cruel em uma mulher, sutilmente nefasto e que
apavora e seduz . Mulheres detém o poder sexual pleno sobre os homens, e
baseado nisto afiam suas garras e os fazem de joguetes em suas mãos.
Mulheres escolhem seus parceiros , até mesmo quando os homens pensam que
as escolhem. Há algo de ardiloso na maneira como nos apaixonamos por
elas, como se fôssemos presas fáceis e (falsamente) inconscientes deste
ardil feminino. Quem detém este poder sexual deveria , por conseguinte,
deter o poder sobre o mundo, mas aparentemente não é o que acontece.
Aparentemente, eu disse.
se chega, nunca se chega ao fundo das intenções de uma mulher. O que se
vê é um eterno jogo de aparências, como se a sinuosidade, a curva fosse
a característica fundamental feminina. Reparem:o corpo feminino é
sinuoso, curvilínio. O orgasmo feminino nunca é direto e sempre passa
por caminhos tortuosos. A voz , os olhares, os gestos
geralmente não são taxativos ,parecendo sempre encobrir segundas,
terceiras e quartas intenções. Até quando elas não sabem o que querem ( e
geralmente não sabem), o conseguem por instinto. Não é à toa que
mulheres não confiam em mulheres. Elas são intrinsecamente solitárias e
têm aversão à comunidade, assim como os escorpiões. A vida em grupo é
mera caixa de espelhos para elas, de onde tiram proveito para conferir
suas múltiplas imagens e facetas projetadas em seus afetos. O outro é
sempre um meio de ressonância delas mesmas. Mulheres são inexoravelmente
únicas, sozinhas, e, por isto mesmo, trágicas.
mulheres amam melhor, é claro. A solidão metafísica não impede que seus
sentimentos sejam mais aflorados que os dos homens. Mas elas também
odeiam melhor, desprezam melhor, pecam melhor e matam melhor. O ofício
feminino é o do teatro da curva. A teatralidade é o pilar que sustenta a
persona feminina, a máscara feminina, na tradução literal. Tudo na
vida, é, em primeira e última análise, representação. E mulheres
representam melhor seus papéis, extraem melhores matizes de desgosto, de
raiva, de paixão, de medo, de covardia, de coragem e, claro, de amor.
têm uma incompetência grave neste palco: não têm talento para a
comédia. São essencialmente e irrevogavelmente dramáticas. A ironia não é
o forte delas. Carregam naturalmente nas tintas, são todas medéias
enlouquecidas (sem exceção) pelas suas fantasias de amor, de casamento,
de maternidade. Seus contos de fadas não são infantis, são disfarces
para suas tragédias gregas que arrastam tudo e todos em suas construções
de areia. Sim, tudo na vida é, em primeira instância, construção de
areia, mas a grande tragédia das moças é exatamente tomar por concreto
aquilo que desmorona com um sopro.
Em sua inegável superioridade de
sentimentos, de persuasão, de fineza intelectual, de sutileza, as
mulheres, no fundo e na superfície mesma, são ingênuas. E este, meus
caros, é o único ‘’fundo ‘’ a que se pode chegar, que se pode alcançar
em uma mulher:a sua trágica inocência, descoberta debaixo de sorrisos
cruéis e carícias maternas.
Mas ainda assim, ou por isto mesmo, as amamos