2005-01-09 19:54:00

       
  

Rebeldia por conta da freguesia

Nada mais constrangedoramente
patético e fora de contexto que o anacronismo, em todas as suas
variantes:não saber envelhecer, usos fora de época, deturpações de
contextos, enfim, deslocamentos temporais mal inseridos, mal enfiados
mesmo.

Querem um exemplo simples?O Rock.Tipo de música mais
voltada a um tipo de atitude que às suas virtudes musicais mesmo, o tal
Rock and Roll surgiu como um movimento musical de rebeldia, de
contestação ao status quo.Confesso que nunca fui muito com a cara da
coisa, mas até achava engraçadinhas algumas canções dos Beatles , dos
Rolling Stones e subgêneros(Confesso:já nasci velho), mas hoje em dia
não deixa de parecer no mínimo ridículo observar um Mick Jagger com mais
de sessenta anos requebrando no palco como se fosse um garotão rebelde
de vinte.Mas vejam só, não é só uma questão de idade do praticante.O
envelhecimento também é do próprio Rock, entendem?Como não achar
patético que jovens bandas que têm uma postura rebelde, agressiva,
alternativa(alternância a que, cara pálida?) sejam dóceis instrumentos
de fabricação de dinheiro para as gravadoras e ajam como bonecos na mão
delas?O pirecing colocado nos genitais para reforçar a agressividade, o
cabelo repicado para ressaltar o desmazelo, os ensaiados gestos obscenos
para ratificar a rebeldia contra o ‘’sistema’’, o qual eles próprios
alimentam, e do qual se alimentam.Ora , façam-me o favor…

O tal Rock morreu.Todo roqueiro hoje em dia me lembra
o Supla:infantil, ingênuo e filhinho de papai(ou mamãe, no
caso);roqueiros que se rebelam pelo prazer estético da rebeldia,porque
acham bonitinho se rebelar, mas no fim do mês querem ver quando
rendeu a bilheteria.O Rock, no caso, é um exemplo aleatório.Há também
toda uma atitude de rebeldia, geralmente importada dos anos sessenta que
é totalmente anacrônica, fora de contexto.O caráter alternativo de toda
uma geração foi assimilado pela cultura de massa e tranformado em
mainstream, em moda.Por isto a infestação dos hippies de shopping
centers, dos heavy metal que frequentam o macdonald’s e outras
aberrações do gênero.

A rebeldia dos anos sessenta podia ser
utópica,ingênua, mas ao menos era autêntica.Hoje, nesta nossa
melancólica era amorfa em que cada um quer apenas defender o seu, a
juventude, tonta pela falta de atalhos e referências, emburrecida pela
mediocridade vigente, adota a casca do que se chama(ou se chamava)
rebeldia.Não se rebelam contra nada, porque não sabem de nada.Acham
bonitinho xingar o Bush porque todos o xingam, mas não entendem patavina
de política externa, assim como acham bonitinho usar roupas de couro,
rasgadas, e argolas penduradas no nariz.É tudo de fora para dentro.É a
revolução do oco, do vazio.Enquanto pensam ser rebeldes, defendem
implicitamente os pilares do consumismo ligeiro, rápido.A rebeldia hoje é
uma griffe.

É uma característica básica de toda a juventude a de
ser idiota.É uma fase alegre da vida, bela, mas é imbecil mesmo.Tem lá
seus Rimbauds e Mozarts da vida, mas bem sabemos que são exceções.Não é
característica própria desta geração de fim/começo de milênio a
imbecilidade.Mas é uma coisa nova a compra do meio alternativo.A
alternância como o padrão de consumo é um dos paradoxos mais
tragicômicos da toda a história da humanidade.A impressão que se tem é
que um rebelde, um verdadeiro rebelde hoje deveria sair às ruas de
smoking e gel nos cabelos em passeata de um só, clamando por bons modos à
mesa.Seria também patético, mas ao menos seria mais autêntico e
original que os rebeldes alternativos hoje fabricados em massa em
Shopping Center.

 

  

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