Boas entradas e saídas
Não serei o primeiro nem o último a
macular a imagem de pureza natalina.Mas lá vai:Natal denota um
sentimento de tristeza, de melancolia funda e desagragadora.Sim,
desagregadora.Uma suposta época de fraternidade que se dá através da
exclusão.A apologia da célula familiar em detrimento do resto.Nada
contra a família, mas cada vez mais penso que prefiro os afetos de
escolha que os impostos;prefiro a família escolhida por mim mesmo, ainda
que esta não me escolha sempre.Não acredito em amor à humanidade
inteira, porque gosto de focalizar alguns aspectos particulares do que
me faz amar alguém.Prefiro o termo ‘’compaixão’’ que denota um
sentimento mais próximo do que se pode dizer ser fraternidade.Claro que
tudo isto passa longe do que vejo ser o tal ‘’espírito de natal’’.Não
vou aqui fazer diatribes contra o consumismo natalino, porque o ser
humano vive mesmo do consumo.Consumo de amor, de drogas(em todos os
sentidos), de roupas, de pessoas, etc.Mas bem que os publicitários
podiam ser mais sutis em seu ofício…
Todos são bons ou aparentemente bons no natal.Natal é
uma pose, da mesma maneira que é uma pose a figura de um Papai Noel
fruto da imaginação dos publicitários da Coca-Cola.Há algo de
visceralmente imposto, e portanto, falso no tal espírto natalino, como
se houvesse data marcada para bom comportamento.Os canalhas são
absolvidos, assim como os mortos tornam-se instantaneamente bons.E,
francamente, tenho certa antipatia tanto de canalhas quanto de bonzinhos
viscerais.A santidade me entedia.Prefiro a mistura do humano.É mais
divertida e mais saudável, até.
O tempo nos remete à data imediatamente
posterior ao natal:o ano novo, em que todos esperam por dias melhores,
por esperanças, etc, etc.Porque toda felicidade humana reside no porvir,
no que virá.A satisfação plena é a morte, tanto no sentido metafórico
quanto real mesmo.Não quero criticar ninguém que espere por dias
melhores, até porque sobrevivemos de expectativa .Mas de fato gostaria
de ser mais surpreendido sobre o futuro, que tem se mostrado cada vez
mais previsível, às vezes tediosa, às vezes tragicamente previsível,
contrariando as expectativas romanescas.
Prefiro viver um dia depois do outro.Não acredito em
datas, em celebrações de momentos, até porque , em tese, todo momento é
sagrado e medíocre ao mesmo tempo.Não se resgata um tempo passado
celebrando-o no presente.As virtudes específicas de um tempo são em
geral alteradas pelas condições de um determinado presente, o que
acontece de maneira canhestra com o natal.O passado não existe a não ser
como lembrança , o futuro paira no campo das idealizações, e o presente
nos escapa, como me escapa este instante, este segundo em que
escrevo.De certa forma, o tempo não existe.Estamos condenados a
continuar,a acontinuar sendo.Sabe-se lá o que.
No mais, é isto.Presentes aqui e acolá, tapinhas nas costas e desejos
de boa sorte.E festas de calendários criados que agradam sobretudo aos
crédulos e a antropólogos ‘’sem preconceito’’.Alguns estudiosos dizem
que a data do nascimento de cristo foi mal calculada e que o mesmo teria
nascido por volta de seis de Janeiro.Deve ser verdade.O Menino não
nasceu em meio a tamanha balbúrdia.Discretamente, deve celebrar seu
aniversário em silêncio.
PS:Ficarei de recesso até começo de janeiro.Até lá me releiam as
velharias, entrem nos arquivos.Deve haver alguma coisa por lá que mereça
algum crédito.No mais, boas entradas, boas saídas, bons fins e começos,
et coetera e tal.Muitas felicidades, sorte e muitos Adrilles para
todos(nem tanto, nem tanto…).
Até.