Projeto
Não se abster da utópica antevisão de paraísos irreais
Não se abster da irrealidade incorpórea dos devaneios
Que me sustentam.
Perseguir o sonho
equidistante entre a premissa e o concreto
tornar-se rigorosamente sublime nas atitudes ridículas
erguer a pluma com o esforço de quem carrega um mundo
(e vice-versa).
projetar a vida como quem traça linha curva,
única distância possível entre dois pontos.
esquivar-se das certezas póstumas
aproximar-se da dúvida concreta
penetrar o vazio como em coito ininterrupto
derrotar-se prazeirosamente pelo acaso
ser levado pelas promessas de infidelidade
ser massacrado como quem dorme
ser vencido como quem flana
amar como quem perde
viver como quem rouba
dançar como quem morre
desejar como se tortura
perder sutilmente o eixo
para nunca mais achá-lo
às margens de si mesmo
conspurcar-se na pureza hedionda dos sonhos estéreis
tornar-se vítima da própria esquálida grandiloquencia
jogar dados com a sorte carcomida vencida e morta.
Morrer continuamente como quem ressuscita sempre
desdenhar o fruto proibido
Por ter-se tornado lícito demais
tornar-se Deus
e desdenhar Sua criação
rir.