Feliz aniversário
Envelhecer é uma indignidade.É sentir lenta e
inexoravelmente a deterioração do corpo e de outros elementos afins e
superestimados:mente, alma e subgêneros.Uma decadência perpétua e
permanente.Não, não se aprende quase nada com a experiência, a não ser
suportar um pouquinho melhor o sofrimento, a mágoa e traiçõezinhas com
maior ou menor importância.Envelhecendo, apodrecemos.Literalmente, sem
nenhuma intenção de metáfora.Basta sentir.
A tão propalada aquisição de sabedoria que o tempo nos dá não passa
de conhecimento póstumo da tragicomédia humana.Sabedoria é um sinal
trocado:é subverter o significado da consciência do eterno ridículo em
sublime.Como um francês que mascara dois ou três banhos atrasados com um
suave perfume ou roupa preta para adelgaçar a silhueta de um obeso.
Não sei muito mais coisas hoje do que há dez
anos.Esta minha ignorância latente é adornada com alguma informação a
mais, claro, que confirma alguns pressupostos já intuídos e remastigados
que , ao final das contas, não acrescentaram ou mudaram alguma coisa em
minha vida.Assim com todos nós:percebemos a decadência inexorável
quando descobrimos que a soma dos nossos conhecimentos não nos levou a
nenhum outro ponto que não fosse o de partida.Viver é caminhar em
círculo, por mais que tentemos andar para a frente.Ah, sim, esta é uma
observação que o tempo nos dá.Compensador, não?
Envelhecer é perder paulatinamente a inocência, que
por sua vez não passa de egocentrismo infantil travestido com nome
politicamente correto.Em outras palavras, perder esta ‘’inocência’’ é
despir-se , a contragosto, do nosso narcismo elementar.É descobrir que o
outro existe, e que este outro geralmente nos ganha todas, ainda que
não mereça a vitória na maioria das vezes.Envelhecer é tomar consciência
pouco a pouco, empiricamente, do conceito de injustiça, que , no mais
das vezes,significa narcisismo contrariado.
Não existe a serenidade da terceira idade.Existe o
desencanto, a frustração consumada e arraigada.Neste sentido,envelhecer é
tornar-se zen-budista por falta de opção.Mas minto.Existe a opção da
rebeldia, que muitos teimam em >
Não delimito uma terceira idade.Começamos a
envelhecer no sentido ‘’metafísico’’ da coisa com nosso primeiro
desencanto, nossa primeira decepção, por mais simplória que seja,
quando somos desmamados na mais tenra infância, por exemplo.Mas
sublimamos logo uma primeira rejeição e durante o correr do tempo,
aprendemos formas mais sofisticadas e sutis de sublimação a outras
rejeições.Talvez esta seja a lição mais emblemática do que é envelhecer:
aprendermos como nos desviar de nossas rejeições.Em todos os níveis.Em
todos os sentidos.
Feliz aniversário, Adrilles.