Penso diariamente em suicídio.Por mais absurdo que possa parecer, é
a única maneira de manter minha lucidez.É difícil conviver com a
falta de sentido e do total esgotamento intelectual humano.Todos os
humanismos foram contestados, todos os sistemas políticos, toda a
filosofia, absolutamente tudo foi posto em cheque no século passado.
O que sobrou?Nada mais que este porre absoluto chamado
relativismo.Dá até saudade de um certo conservadorismo que dizia (que
ainda diz) que há princípios incontestáveis, que há valores
indiscutíveis.
Mas não dá para voltar atrás.Como acreditar piamente em uma moral
cristã depois de Nietzsche?Como pensar em uma república utópica de
Platão depois de termos inventado esta mídia imoral que fabrica meias
verdades?(Fatos, eles dizem, atenham-se aos fatos.Mas o que são os fatos
sem uma compreesão maior?”os fatos me entediam”, já dizia Paul
Valéry.).A história das idéias parece ser uma constante humilhação de
teses passadas, uma permanente autofagia que nos lança , cada vez
mais , em um vácuo.
Não sou cético, apesar de o parecer.Meu problema é justamente
este:tenho esperança.Em princípio, todos(os que permanecem
vivos) temos.Me alimento exclusivamente deste câncer ”salutar”
chamado esperança.É preciso saber tirar lições do absurdo em que
vivemos.É urgente a criação de uma nova didática que obedeça aos moldes
da arte.Sim, da arte mesmo.Platão expulsou os artistas de sua
”república”.Talvez fosse melhor expulsar os pensadores.Não há mais
espaço para um pensamento cartesiano, lógico, racional.É preciso
reinventar o modo de se pensar, e talvez este modo seja a poesia.As
tensões da nossa era ”pragmática” estão se rompendo.Vivemos em um
mundo bárbaro travestido de civilização.”O mais forte sobrevive”.Força
econômica, força de poder.Nada mais.Apenas um arremedo do sistema
feudal da idade média.E ainda nos chamamos de ”pós-modernos”.
Vivemos, aparentemente, em um mundo supostamente melhor do que
foi antes.Aqui, na terrinha ,desfrutamos de um regime democrático que
dá voz à todos.Mas de que adianta o direito à voz, se quase ninguém
tem o que dizer?Não há voz, mas apenas um grunhido animalesco e
inaudível.O que se observa é uma multidão de apáticos que seguem
ordinariamente a voz daqueles que JULGAM ter razão, o que é muito
pior.Yeats dizia que ”os piores sempre são radicais, enquanto aos
melhores falta convicção”.Tendo a concordar.
E ficamos nós aqui, intelectuaizinhos desencantados mastigando
nossa própria desilusão.É preciso agir, é preciso sim ser infantilmente
utópico, é preciso lutar contra moinhos de vento, é preciso ser patética
e ridiculamente quixotesco.Ou então seremos esmagados por esta
razão medíocre, por esta sanidade tediosa que nos ensinam desde o berço e
que deu no que deu.Cá para mim, prefiro o meu ridículo.
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