Uma infâmia lânguida e furtiva
percorre a pele do elogio que lhe faço
como um soco que acaricia a carícia
em que lhe afago.
Já não prezo o que lhe quero
não mais amo o que desejo.
Aninho em mim
aninho em nós
um cupim
que devora o afeto
que em palavra enalteço.
Resta este gesto mecânico de gostar
como um reaprendizado eterno
do que se perdeu
e jamais retorna
por esgotamento de começo.
Outras palavras, outras pessoas
outros filhos, outros tempos
outras pontes
circunvagam à margem do precipício
que nos fazem andar
rumo à invenção do caminho
que nos percorre o tropeço.
Vamos de mãos dadas,
pronunciando cada palavra
do silêncio
que engole nossa falha de diálogo
Vamos de palavra atada
sussurrando para dentro
a criação
de nossa mais nobre intenção.