Não há amor na vaca que não se doa
para ser o bife que a mãe tempera
com o afeto de doação
ao filho que ama.
Não é exatamente amor
ou doação ao próximo
o desejo que mastiga
o bife do desejo consumado
de um outro corpo
de um outro ouvido
que escuta e acaricia
a voz da fome do teu desejo.
Não é absoluto o amor
que se doa em sacrifício
e se percebe vaidoso
do heroísmo de sua doação
e requer o troco
de seu valor na história,
assim como
aquele do pai
que cria seu filho
para uma crucificação pública
com a intenção perpetuada em sacrifício
de celebração de seu nome.
É menos que amado
o pássaro preso na gaiola
que atrofia seu voo
para encantar a fome de beleza
que condena sua liberdade
aos olhos de quem o prende.
Seria talvez quem ama
quem se prende ou se deixa
morar no abate
ao seu carrasco que não enxerga beleza
em seu heroísmo silencioso
de quem não aprendeu se amar.
Tudo somado, nada seja amor de todo.
Talvez amor seja uma ignorância de seu propósito
como a gratidão do pássaro,
cujo voo inconscientemente ceifado
se rende ao agradecimento
pelo alpiste de seu carcereiro.