Acordar.
Pisar o chão do sonho amassado
na inconsciência dos passos trespassados pela realidade .
Acordar o sonho
para sua transformação em realidade .
Erguer o corpo das quedas de ontem
para cair na vontade de desabar
um abismo até um outro
ao alcance de sua mão .
Atar os nós dos sapatos .
Atar os nós dos desacertos de ontem.
Lavar as mãos pelos erros de sempre.
lavar os erros das mãos de outros .
Lavar-se da sujeira do dia anterior
para sujar – se na placenta
da vida de todo dia .
Trabalhar :
os desmandos do chefe abusivo
os abusos do outro invasivo.
Invadir alguma fresta de algo bom
na parede que me separa
de um amigo.
Comer :
a vontade de não mais me saciar
devorar o desejo de não mais existir
defecar o vazio inexistente .
Voltar:
ao lar do beijo que não mais amo
a reinventar o amor
que não mais sinto
a forçar a recriação
do sentido do sentimento;
Reproduzir o carinho
no gesto forçado
a quem me cerca
até que invenção e força
sejam leves como o ar.
respirar :
os pequenos gestos cotidianos
que nos salvam de uma vida
não percebida .