Didática amorosa

Amor toma a forma
de quem ama :
um canalha há de amar
acanalhadamente,
lambendo o fruto
cuspindo o caroço
da coisa amada .
Um santo há de amar
com excessiva generosidade
sem uso e fruto da desejada
que se martiriza por assim
ser tão mal amada .

Mas Amor também é ideia
que se persegue
e transforma o amante
pela execução amorosa
da prisão voluntária
à posse inaugurada
de seu objeto amado.
Amor é escolher deixar
a liberdade trancafiada .
Amor enxerga no amado objeto
algum esboço de pessoa
que se inventa
à imagem e semelhança
da realidade
que se engana .
Amor é amar o engano voluntário
Amor é amar
o sacrifício da esperança
da ideia de quem se ama.

Porque nem se conhece tanto assim
com tanto nexo
o amante e sua verdade .
Ama a sombra de sua chama
a incendiar o seu reflexo
-em quem se ama
sua enganosa liberdade .

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